.

.nada poderia ser melhor

Dia 24 de maio fez três anos que meus problemas começaram.

Na verdade, não foi exatamente dia 24 de maio. Eu não saberia dizer se começaram realmente antes ou depois, mas essa data foi a mais marcante: o dia em que meu tio morreu.

As pessoas dizem que o tempo cura tudo, e com ele, a dor passa.

Eu discordo.

O tempo só torna as coisas mais difíceis.

Em 2007 eu era uma garotinha ainda inocente e ingênua de treze anos, que não pensava em garotos, nunca havia beijado ou mesmo cogitado namorar alguém e ainda brincava de bonecas. Tanta coisa mudou em três anos! No início, não foi o drama que eu pensei que fosse. Eu ainda não havia sentido o impacto, e como eu estava acostumada a não ter mais meu tio em casa (porque desde outubro de 2006 ele ficava internado, passava um tempo em casa, depois era internado de novo, aí passava um tempinho em casa, e assim em diante), mas sentia falta de suas ligações à noite. Houveram também dias que eu chegava correndo da escola e chegava praticamente derrapando no quarto, para contar algo que tinha acontecido, e quando eu olhava, lembrava que ele não estava mais lá. Que ele nunca mais estaria lá.

No final de 2007 a minha queda começou. Aos poucos fui perdendo meus interesses, não desenhava mais. Fui me distanciando dos amigos, à ponto de me isolar completamente nas férias. Em 2008, um novo ano me animou um pouco, mas foram um Natal e Ano Novo terríveis. Do Natal eu não me lembro bem, mas no Ano Novo, deu meia noite, estávamos eu e minha avó na varanda de casa, ela mais à frente e eu encostada na porta, de pijamas. Abraçamos-nos e fomos dormir.

Nenhuma palavra a mais, nenhuma palavra a menos. Na verdade, nada foi dito.

Meu aniversário de 14 anos também foi um dia difícil. Não parecia um aniversário, nem ao menos um dia comum. Foi melancólico, dramático e cinza. No dia 9 de março de 2008, não havia uma única nuvem branca no céu, estava cinza e a vista era tomada pela névoa. Foi também um dia de clássico do campeonato mineiro, Cruzeiro e Atlético Mineiro se enfrentaram no dia do meu aniversário. Eu amo futebol, e eu não sabia como e porque esse amor havia crescido, porque eu era uma “típica garota comum”, só sabia o nome do meu time, a cor dele e pronto. De alguma forma, eu sinto que meu tio está comigo quando penso, leio, ou vejo jogo de futebol. Eu sinto prazer em assistir uma partida, e já intercalei um final de semana inteiro vendo jogos. Começou com RockGol e foi passando por campeonato italiano, VT do campeonato espanhol, depois VT dos campeonatos alemão e inglês... Eu via tudo. Ainda vejo.

Mas enfim, o Clássico só me deixou pior.

O Cruzeiro jogou terrivelmente e o Atlético teve um gol anulado. “Um empate”, eu pensava. “Não foi tão ruim”. Mas a cada jogada, era como se fosse um soco no estômago. Eu passei o jogo em silêncio. Chorei sozinha em meu quarto e, assim como o dia inteiro, também passei a noite sem a companhia de ninguém.

Eu só ia piorando e, quando minha tia percebeu que nem no computador eu ficava mais, ela acionou o estado de alerta. Foi quando eu finalmente fui diagnosticada com Depressão profunda, inclusive com tendências suicidas. Mas isso é assunto pra outro post.

Eu não tenho vergonha de admitir que faço controle psiquiátrico (sim, com uma psiquiatra) de dois em dois meses (antes era todo mês, mas agora que eu voltei a conseguir dormir, o intervalo pôde ser maior), tomo três antidepressivos e inclusive remédios para dormir.

E sim, tenho 16 anos, sou dopada, perdi meus sonhos e não tenho mais perspectiva de vida.

Nada poderia ser melhor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Regras sobre comentários

× Os comentários são moderados
× Ofensas, insultos e coisas afins serão aceitos, já que todos irão ver, e acho que o humilhado afinal será você.