Deitado em sua cama, os olhos fechados e a respiração baixa e devagar, ele viajava em seus sonhos:
- Então beije-me, encoste teus lábios nos meus e satisfaça meu desejo, me transforme na pessoa mais feliz do universo, me de o ar que eu preciso, o meu néctar precioso... Me de você. Venha comigo, venha...Vamos nos curtir, transformar nossos mundos em um só, fazer de nossas almas apenas uma, fazer o "nós" virar "eu". Venha, vamos, eu sei que você quer, também te quero, não tenha vergonha. - Ele dizia, com os lábios úmidos, num sorriso de canto a canto da sua face. Depois de meses ele estava feliz, depois do acidente que houve ele nunca mais havia ficado feliz, sua vida era vegetativa, ele não levantava para nada. Havia desistido da faculdade, e passava o dia inteiro vendo televisão - Não, por favor, volte. Não, não vá... Não, não me deixei, novamente não, não me deixe - Ele gritava em meio a socos e pontapés no ar, o sonho havia virado pesadelo, sua vida caiu novamente - Volte, eu preciso de você, eu te quero, voltaa... - Mais não adiantava, ela não voltava, ela estava deixando o campo de margaridas, correndo em direção ao abismo - Não, de novo não... NÃOOOOOOO - Ele gritava alto, mais não adiantou a garota sorriu para ele e deu um mísero adeus, e... Ele caiu da cama, despertando do sonho, ou melhor, pesadelo. Ele suava frio, as mãos escorregadias, a respiração alta, arfando, quase falhando, faltava ar para ele. Sua mãe gritava na porta de seu quarto e ele disse que estava bem, a mandando ir dormir. Levantou se apoiando no criado mudo e caminhou até o banheiro, lavando o rosto para voltar para cama - Porque você se foi? Porque você tinha que morrer? A vida aqui comigo não era boa? Tá que éramos apenas namorados... Mais você era minha vida, eu não resisto sem você. Não, dá... não dá... - Ele dizia entre lágrimas, parando para soluçar - Você devia ter ficado aqui e eu ir no seu lugar, eu tinha que ir. Porque você se jogou na frente daquela maldita bala por mim? Why? Você não devia, era meu destino morrer por você. Meu destino - Já deitado na cama ele chorava como criança, as lágrima escorrendo pela face... Ele esticou a mão e pegou uma caixinha de prata, a qual ele daria para ela e lá dentro tinha um anel de ouro, com uma esmeralda para dar o toque final. Ele colocou o anel no peito, na linha do coração e o pressionou ali. Depois de alguns minutos chorando silenciosamente, ele adormeceu.
O barulho de um canário cantando em sua janela o acordou, era dia de sol, dia quente, dia de praia e dia de curtição. Ele olhou para seu peito e o anel não estava lá, olhou para o lado subitamente e lá estava ele, na caixinha de prata. Sua mãe deve ter passado pelo quarto e ter entendido o que aconteceu, isso acontecia todas as noites, mais dessa vez foi mais forte, mais intenso... Levantou da cama, Pera, levantou da cama? Sim, levantou da cama, ele estava disposto a sair hoje, correr atrás do tempo perdido, rever amigos, botar a vida pra frente. Ela ia querer isso. Se arrumou, suas melhores roupas. Penteou o cabelo arrepiado hoje, mudando a rotina e passou um gel rápido. Passou correndo pela cozinha - Vou sair - Disse a sua mãe, beijando a bochecha direita. Ela se alegrou por inteira, e nem contestou nada, deixou-o ir livre... Ele andou alguns quarteirões, até o parque onde se conheceram. Bem ali, na frente da roda gigante, ela derrubou refrigerante de uva nele e ai começou toda a história... Bem ali. Ele olhou em volta e seus olhos se arregalaram, começou a soar frio, uma sensação de que queria desmaiar. Ele tentava respirar mais não havia ar, não havia nada ele não conseguia puxar o ar para si... Tudo em vão, suas pálpebras fecharam involuntariamente e ele caiu no chão e a última coisa que ouviu foi alguém gritando ele.
Suas pálpebras abriram, um clarão forte em seu olho e... Ela, era ela, ela estava lá. Sua boca se abriu numa pequena fenda, os olhos arregalados. Ela perguntou como ele estava - Como você... Como? - Ela franziu a sobrancelha o olhando, confusa. Ele sorriu, o sorriso iluminando o local e se levantou com a ajuda dela - Voltou por mim? - Perguntou a ela que ainda estava confusa, claro que não era ela, mais a face, o jeito de falar, tudo igual... Mais se ela estava ali era por algum motivo, ninguém ia ali, num parque abandonado involuntariamente. Ele pegou a mão dela, e a puxou pela cintura, dando uma pegada forte - Kiss me - Ele disse sorrindo, e ela passou o braço por seu pescoço e o beijou. Naquele momento, ela sentiu o coração se acelerar, sentiu que era ele, ele que ela amava e sempre amou. Ela nunca havia o visto, mas o amava mesmo assim. Estavam unidos não somente nesse mundo, mais num mundo eterno, o mundo do amor. Seriam eles, somente eles para sempre.
Seus olhos se abriram, foi só mais um sonho, apenas mais um sonho em que ele seria feliz. Lá estava ele, deitado na velha cama de madeira surrada, o colchão sujo, lá estava ele... Sozinho, solitário e sem razão para continuar vivo. Ah amor desgraçado, a amor maldito...
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